quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Eu vi Davi di Michelangelo



E como tantas outras vezes na vida, o fato de ser distraída para geografia e detalhes históricos em geral, me proporcionou uma surpresa absoluta.

Fui convidada para ir a um Museu em Firenze. Adoro ir a Museus, em Firenze então, “de grátis”... Porque não? Sim, eu sei que Firenze foi palco de grandes acontecimentos históricos, que é berço de grandes artistas italianos. Que conserva histórias milenares, que boa parte da revolução que culminou na ciência moderna se desenvolveu por aqui e bibibi. Mas eu não fiz essa leitura quando aceitei o convite. Nem me lembrei. Só queria dar uma volta. Sair e ver gente.

No caminho, me disseram: vamos a Galleria dell'Accademia, têm obras de Michelangelo. E eu disse em italiano: ah legal!

Chegamos. Entrei. Cinco estátuas inacabadas do mestre. Muito interessante, têm sua beleza, mas é meio chocante. Porque parece que os homens querem sair de dentro do bloco de mármore, mas estão presos ali. Talvez por isso se chamam “Prigionieri”. Me lembrei da alegoria que Piero Coda fez em aula, explicando a dor e que eu toscamente reproduzo aqui: assim como a estátua precisa surgir de dentro do mármore, também a beleza pode nascer da dor. Um dos prisioneiros era muito expressivo. O braço inacabado por sobre a cabeça parecia fazê-lo suportar um peso terrível.

Eu me perguntava se eram inacabadas por escolha ou não, quando virei a cabeça e meu olhar se deparou com ele. Meu coração se perdeu. E o cérebro meio que travou. Porque precisei de alguns instantes pra associar a visão às informações que tenho registradas e pra acreditar que estava vendo Davi di Michelangelo. Fiquei tão abobalhada que fui me aproximando devagarinho. Sem pressa. Ainda olhando “i prigionieri”, me fazendo de tímida para então finalmente estar diante dele e de seus quase 5 metros de altura.

É majestoso. Seus músculos parecem feitos de carne. Sua expressão é de quem decidiu-se a fazer algo muito sério. Os olhos são marcantes e olham em direções diferentes. Os detalhes das veias nas mãos e no pescoço são quase assustadores. As unhas dos dedos do pé... Na mão direita a pedra que atiraria em Golias e na outra mão, que está apoiada sobre o ombro, segura o estilingue. É perfeito. Michelangelo deve ter chorado quando o viu pronto. Na minha ignorante opinião artística, é ainda mais belo e deslumbrante que Pietà.

Michelangelo levou três anos para concluir a escultura (1501/1504), revelando-a no dia 8 de setembro. Antes dele receber a incumbência dessa obra,o bloco de mármore de carrara de onde surgiu Davi ficou exposto ao tempo por 25 anos no pátio da catedral de Santa Maria del Fiore, e foi danificado a ponto de diminuir de tamanho. Outros escultores já haviam recebido a incumbência da obra mas, por razões diversas, eles não se interessaram. Esse bloco foi rejeitado por grandes mestres como Duccio, Baccelino e Roselino. Michelangelo é considerado nesta obra uma espécie de inovador, pois retrata a personagem não após a batalha contra Golias (como Donatello e Verrochio antes dele fizeram), mas no momento imediatamente anterior a ela, quando David está apenas se preparando para enfrentar uma força que todos julgavam ser impossível de derrotar. Michelangelo neste trabalho usou o realismo do corpo nu e o predomínio das linhas curvas.” (Traduzi de algum site italiano, todo mundo sabe que não entendo nada de arte).

Que homem foi esse capaz de esculpir tamanha beleza. Como e quando foi que descobriu que poderia eternizar as formas humanas no mármore como quem brinca com massinha de modelar. O que pensava a cada obra concluída. Porque optava em não concluir algumas. Será que por um instante teve noção de que sua arte seria eternizada e que um dia uma guria deslumbrada e distraída, que atravessou o Atlântico em busca de seus sonhos, ia se emocionar diante de seus feitos. 

Seja lá quem fostes e o que pensastes Oh! bravissimo Michelangelo, serei eternamente grata por esse instante de beleza. E por reforçar minha crença que é possível sonhar acordada.

Um comentário:

francisco disse...

que lindo amor!

a pietá eu já conheço, assim que puder, vou conhecer david convosco.


beijos beijos beijos!