quarta-feira, 4 de junho de 2008

A outra face do poder

A professora de negociação desafiou-nos a desenvolver um texto a partir do dito popular: "Queres conhecer alguém de fato? Dê poder a essa pessoa".

“O poder seduz, corrompe, decepciona e faz ponto cego e surdo nos seus ocupantes temporários” (Raymundo de Lima). Em geral as pessoas percebem apenas a face mal do poder. E mais, colocam o poder como responsável, esquecendo-se que é o indivíduo quem exerce o poder.
A leitura disponível e a concepção geral a respeito do poder são negativas. Li um pouquinho de Maquiavel, de Michel Foucault, Max Weber, Pierre Bourdieu. Conversei com o professor Simões e com o meu pai que sempre exerceu muito poder sobre mim e que prefere seguir a linha de Maquiavel ao ser questionado se era melhor ser amado ou temido: "os dois, mas se houver necessidade de escolha, é melhor ser temido do que amado".
Cabe uma explicação maior: meu pai foi policial durante 23 anos. Tratava a meus irmãos e a mim como aos seus subordinados na delegacia. Sorte a nossa que não era como aos criminosos do xadrez. E sempre, ao menos até os primeiros passos na casa dos meus vinte anos, despertou-me um misto de terror e fascínio que confundiam meus sentimentos por ele. Felizmente, hoje, já não desperta o medo. Permaneceu a admiração e o respeito. E quem sabe, meio escondidinho, a vontade de imitá-lo.
O meu pai pertence a uma minoria não intelectualizada que entende o poder, ou melhor, o exercício do poder como algo fascinante. A pergunta a ser feita é: fascinante para quem?
Independente disto prefiro abordar a face bela do poder. Aquela que seduz, atrai, movimenta paixões, arrasta multidões e transforma. Aquele poder que é fascínio. Admiração. E que leva as pessoas a seguir os passos do poderoso. Pequenos exemplos: um avô, um professor que marcou a infância, um amigo da tia que fazia com que as outras pessoas parecessem sem graça. E podemos partir para exemplos maiores e mais concretos: Nelson Mandella. Gandhi (que foi chamado pelos seus seguidores de Mahatma – Grande Alma). O que eles exerciam sobre os seus seguidores é poder. A face bela do poder. O uso do exercício do poder para coisas grandiosas em benefício de muitos. Livre de egocentrismos, de egoísmos.
O que estou querendo dizer é que o poder não é o vilão. O poder sozinho não existe. Ele não é algo independente e com vontade própria. O poder é a vontade de alguém. Pois só existe poder, onde existe vontade.
Meu pai é vaidoso, egocêntrico. Preocupa-se mais consigo do que com o bem-estar dos outros. Logo, suas vontades são para si. Realiza coisas que supram os seus desejos particulares. E ainda assim exerce fascínio.
Gandhi não era vaidoso, ao menos não o tipo de vaidade mundana que conhecemos. Preocupava-se com o futuro de seu país. Suas inquietações incluíam um povo. Suas vontades eram coletivas. Realizava coisas que impactavam direto na vida das pessoas. Atendia aos desejos de uma nação. E era mais que fascinante, era arrebatador. E muito poderoso.
Então a afirmativa “Queres conhecer alguém de fato? Dê poder a essa pessoa”, serve para refletirmos a que tipo de pessoa se dará o poder. Pois ela apenas potencializará aquilo que já é. Revelar-se-á na oportunidade de tomar decisões. Se for alguém altruísta, tomará decisões para o bem de todos, provavelmente consultará os principais envolvidos. Pedirá ajuda a fim de representar aqueles que estão sob o exercício do seu poder. Se for alguém egocêntrico, individualista e autoritário (sabe aquele que tem “o rei na barriga”?) certamente tomará decisões condizentes com a sua personalidade. Exatamente como apontou bem um dos colaboradores deste trabalho, Joel Potrich, ao afirmar que o poder, quando bem exercido, torna-se serviço.
Abraham Lincoln resumiu em uma única frase o que estou querendo dizer: “se quiser por à prova o caráter de um homem, dê-lhe poder”.
O poder não transforma as pessoas. O poder sozinho não é nada. Acredito que o exercício do poder também não transforme alguém, apenas potencializa as qualidades ou os defeitos do “poderoso”.

4 comentários:

Anônimo disse...

Olá tudo bem?
Achei muito interessante o teu blog, posso dizer que estou aprendendo com ele.
Meu nome é Maria Cristina tenho 23 anos, e estudo Relações Públicas na Feevale.
Meu email é mariacristina.rp@feevale.br
msn: maryschiquerrima@hotmail.com

Abraços

Anônimo disse...

Olá Patricia parabéns pelo grande texo. Achei muito legal apartir de ler o teu texto ficarei mais atento em minhas observações e diferenças entre o poder e comando. Já te falei antes você vai longe guria ! Grande abraço.
Joel

Tiane Quadros disse...

Oi,Patrícia!
Como eu adoro blogs, dei uma espiadinha no seu e adorei! Parabéns, você escreve muito bem! Ler as coisas que você escreveu me fez lembrar muito da nossa amizade. Estou feliz em reestabelecer contato! Beijos!

Anônimo disse...

digamos que agora foi poetico, praticamente um candidato a presidencia, usou bons pontos de referencia, e grandes pessoas, nao digo em tamanho mas em carater.. eu ate me identifiquei com o texto... ciao...prego